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STCP PARTICIPA DE MATÉRIA DA GLOBO RURAL SOBRE GERAÇÃO DE ENERGIA E CELULOSE NO BRASIL

Quando decidiu iniciar o plantio de eucalipto em sua propriedade em sistema ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta), ainda em 2009, o pecuarista e pesquisador da Embrapa Florestas, Abílio Pacheco, tinha como objetivo ter uma atividade que complementasse a rentabilidade que obtinha com a criação de gado.

Passados mais de dez anos, ele tem visto essa lógica se inverter, conseguindo um retorno três vezes superior com a venda da madeira quando comparada com a produção animal.

“Há muitos anos eu vinha ouvindo falar de apagão florestal, mas enfrentando dificuldade de vender a madeira eu pensava: ‘tem alguma coisa errada nesse apagão, porque eu tenho a madeira e não consigo vender’. E agora eu consigo enxergar que realmente está faltando madeira”, contou o produtor durante passagem da Caravana ILPF, organizada pela Rede ILPF, em sua propriedade. Segundo ele, a última comercialização feita, de 35 hectares de floresta, gerou um retorno 368% superior ao que recebia há dois anos.

De acordo com Ivan Tomaselli, presidente da STCP Engenharia de Projetos, empresa que atua no setor de produtos florestais, a valorização do metro cúbico do eucalipto, do pinus e outras madeiras reflete um aumento exponencial da demanda nos últimos cinco anos sem uma resposta similar do lado da oferta.

“A implantação de novas áreas de eucalipto e de pinus tem sido limitada e a produtividade também não tem crescido. Por outro lado, existe uma demanda crescente de madeira, em torno de 2% a 3% ao ano”, relata o executivo.

Segundo dados do IBGE, a área total com silvicultura no país caiu na mesma proporção entre 2019 e 2021, passando de 9,7 milhões de hectares para 9,5 milhões de hectares, redução de 2%.

O crescimento médio anual da demanda por produtos florestais, por outro lado, tem sido potencializado pela implantação de novos projetos de papel e celulose.

Em Mato Grosso do Sul, duas novas unidades foram anunciadas nos últimos dois anos, uma da Arauco, com capacidade de 2,5 milhões de toneladas de fibra curta, e uma da Suzano, com capacidade de 2,3 milhões toneladas de celulose ao ano.

No mesmo período, uma nova unidade da LD Celulose começou a operar no triângulo mineiro com capacidade instalada de 500 mil toneladas de celulose solúvel ao ano.

“A demanda cresceu de forma exponencial e a ampliação de fábricas de celulose é um negócio estrondoso. Hoje, somos o segundo maior produtor mundial de celulose e o principal exportador mundial de celulose de eucalipto”, pontua Tomaselli ao estimar em até 10 milhões de metros cúbicos a demanda adicional gerada a cada nova fábrica em operação. “Isso afeta a demanda e, como a oferta é constante, você tem um buraco”, pontua.

Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a produção nacional de celulose apresentou um crescimento de 27% de 2019 a 2022, enquanto as exportações do mesmo produto avançaram 30,6% no mesmo período.

Porém, é o uso para queima e geração de energia que mais tem puxado os preços no mercado interno, segundo relatam tanto Tomaselli quanto Abílio, cujo telefone não para de tocar com interessados em adquirir as árvores de eucalipto plantadas nas duas propriedades que administra em Goiás, uma de 250 hectares em Cachoeira Dourada e outra de 350 hectares em Inaciolândia.

“A energia está tão valorizada que não compete mais com a serraria. Eu já estive vendendo para serraria, recebia R$ 200 o metro cúbico contra R$ 80 da energia, mas hoje a energia está pagando R$ 250. A valorização foi tanta que quem me comprava para serraria desistiu porque não conseguia competir em termos de valor com o que a energia está pagando”, conta o pesquisador da Embrapa Florestas.

Dentre os principais usos da energia gerada pela queima de madeira está o próprio agronegócio, que a emprega em operações industriais como a secagem e o processamento de grãos.

De acordo com Tomaselli, tratam-se de grandes empresas agrícolas com operações distribuídas pelo país e que passaram a substituir o uso de madeira de supressão florestal pela de florestas plantadas na busca por maior responsabilidade socioambiental em suas operações.

“Na nossa empresa de consultoria percebemos cada vez mais demanda do agronegócio para criar programas que garantam a sustentabilidade no suprimento de biomassa, e são empresas grandes que operam de Norte a Sul do Brasil”, pontua o presidente da STCP ao explicar que o valor desembolsado com esse tipo de matéria-prima representa um percentual pequeno em relação ao custo total da operação dessas empresas, cerca de 3% ante 60% no caso dos demais setores como serraria e celulose – o que permite a oferta de preços superiores à média do mercado.

Com dificuldades para expansão da oferta que vão desde o longo período entre plantio e colheita, superior a seis anos, à escassez de áreas, cada vez mais destinadas a produção de grãos, a saída para equilibrar o mercado tem sido o investimento em sistemas agrosilvipastoris, como a integração lavoura-pecuária-floresta, que permite o plantio em conjunto com grãos e pastagens.

“Na região Sul fizemos um levantamento recentemente e, para equilibrar a oferta e demanda de pinus, seriam necessários 500 mil hectares adicionais nos próximos dez anos. Se considerarmos o Código Florestal, isso significa que precisaríamos de um milhão de hectares de terra disponível”, avalia Tomaselli.

Em Inaciolândia, onde acaba de colher 35 hectares de eucalipto, Abílio Pacheco já adaptou seu sistema de plantio de olho no mercado. Onde antes havia uma linha de árvores a cada 15 metros de pastagem, implantará duas linhas, duplicando a sua produção na mesma área.

“Eu penso que o mercado é predominante. Você tem que ver onde você está e qual a demanda. Se você estiver num polo moveleiro, você vai produzir madeira para serraria, se estiver num polo de grãos em que o pessoal usa muito eucalipto para secagem de grãos, você vai produzir o material pra esse fim”, conclui o produtor e pesquisador da Embrapa Florestas.

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